Soluço constante ou persistente: possíveis causas e o que fazer

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Soluço constante pode estar ligado a um hábito que você repete todos os dias, por exemplo, ingerir bebidas gaseificadas em excesso ou comer muito rápido e em grande quantidade. 

Existem também, pelo menos, 100 condições clínicas que podem levar ao soluço constante e recorrente, ou seja, que volta repetidas vezes. Nestes casos, o soluço é melhor classificado como persistente, e pode levar à desnutrição, desidratação, fadiga e insônia.

O soluço é definido como uma contração muscular involuntária dos músculos inspiratórios intercostais e do diafragma, que levam à uma rápida inspiração (entrada de ar), seguida do fechamento rápido da glote, uma estrutura em formato de anel que abre e fecha, para permitir a passagem de ar. No soluço, ela se fecha e impede a entrada de ar, produzindo um som. 

O primeiro passo que você pode dar é prestar atenção aos momentos da sua alimentação. Veja se está consumindo muita bebida alcoólica ou gaseificada, que distendem o seu estômago. 

Caso não, verifique se você está mastigando bem os alimentos, ingerindo pouca quantidade de comida a cada garfada e se deixa para conversar depois de ter engolido o alimento. Se estiver comendo muito rápido, colocando grandes quantidades de alimento na boca e falando enquanto come, pode ser esse o motivo de ter soluço todos os dias. 

Se o seu soluço persistente não tem relação com seu hábito alimentar e se repete várias vezes ao longo do dia, por vários dias, então ele pode ter outras causas. 

Veja algumas possíveis causas de soluço persistente e quais as formas de tratamento. 

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Classificações do soluço

Soluço persistente
Existem classificações diferentes do soluço, além de diversas causas

O soluço é classificado com base em sua duração, que é muito importante para se levantar hipóteses a respeito das causas. Ele é classificado da seguinte forma:

  • Soluço transitório: episódios recorrentes que duram menos do que 48 horas. Este tipo de soluço normalmente está associado ao consumo de bebidas alcoólicas, gaseificadas, distensão do estômago por alimento ou, mesmo, ansiedade. 
  • Soluço persistente: episódios recorrentes que duram mais do que 48 horas e menos do que 1 mês. 
  • Soluço refratário: episódios recorrentes que duram mais do que 2 meses. 

Causas do soluço persistente

O mecanismo do soluço é bastante complexo e envolve diversas estruturas do corpo humano, entre elas:

  • Epiglote, uma estrutura que se fecha no momento em que estamos engolindo o alimento, para que ele não vá para a traqueia, caso contrário, engasgamos. 
  • Laringe, o órgão que contém as pregas vocais e também está envolvido na deglutição. 
  • Esôfago, um tubo oco e muscular, que conecta a garganta ao estômago.
  • Estômago
  • Músculos intercostais, localizados na parede do tórax e estão envolvidos na respiração.
  • Diafragma, um músculo fundamental para a respiração e que separa a cavidade abdominal da torácica. 

Pelo fato do soluço envolver tantas estruturas, a sua persistência pode ter várias causas, até mesmo doenças que nada tem a ver com a respiração. 

Irritação dos nervos frênico e vago

O nervo frênico começa no pescoço, passa pelo coração e pulmões até chegar ao diafragma.

O nervo vago começa no tronco encefálico e percorre toda a extensão do pescoço, do tórax e do abdômen.

Uma irritação nesses nervos pode levar ao soluço persistente e ela pode ser causado pelos seguintes fatores:

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  • Algum corpo estranho que fique em contato com a membrana timpânica (no ouvido), pode irritar um ramo no nervo vago.
  • Faringite e laringite são inflamações que podem causar irritação em um ramo do nervo vago.
  • Tumor, cisto, bócio ou caroço no pescoço e massas tumorais no mediastino podem irritar o nervo frênico.
  • A dilatação do abdômen, causada pelo consumo de bebidas gaseificadas, pode irritar o nervo frênico e o nervo vago. Neste caso, prender a respiração pode parar o soluço, pois aumenta a pressão diafragmática. 
  • Dilatação do abdômen por aerofagia, que é quando você engole muito ar por comer rápido demais ou falar enquanto come, por exemplo.
  • Anormalidades ou doenças envolvendo o diafragma, como hérnia de hiato, refluxo gastroesofágico, eventração diafragmática (elevação anormal do diafragma), abscesso subfrênico (pus localizado abaixo do diafragma) e manipulação operatória podem causar irritação direta ou indireta no nervo frênico. 

Doenças do sistema nervoso central

Doenças do sistema nervoso central causadas por alguma infecção, problema vascular ou estrutural podem provocar soluço persistente. 

A forma pela qual as doenças do sistema nervoso central contribuem para este problema é liberando o mecanismo de inibição natural do reflexo do soluço. 

Entram nessa categoria, doenças como:

  • Trauma craniano, acidente vascular cerebral (AVC/derrame cerebral), malformações nas veias e artérias e inflamação da artéria temporal. Essas são todas doenças relacionadas a lesões vasculares, que podem alterar o mecanismo de inibição do reflexo do soluço.
  • Meningite, encefalite, abscesso cerebral e neurossífilis são exemplos de doenças infecciosas que acometem o sistema nervoso central e podem causar soluço persistente. 
  • Câncer cerebral, esclerose múltipla, siringomielia (cavidade líquida dentro da medula espinhal) e hidrocefalia são doenças que promovem lesões estruturais no sistema nervoso central e podem prejudicar o mecanismo natural de inibição do soluço. 

Substâncias tóxicas e doenças metabólicas

Substâncias tóxicas como o álcool e o uso de alguns medicamentos e anestesia geral podem ter como efeito colateral o soluço persistente, pois podem irritar os nervos frênico, vago ou o próprio sistema nervoso central, alterando os mecanismos envolvidos no soluço. 

Doenças metabólicas também podem ter o mesmo efeito, ao promoverem o acúmulo de toxinas no corpo: 

  • Uremia: é uma condição na qual os rins param de filtrar a ureia, levando ao acúmulo dessa substância no sangue. 
  • Diabetes: o excesso de glicose pode causar lesões nos vasos sanguíneos, levando a complicações, como insuficiência renal, cegueira, doenças cardiovasculares e lesões neurológicas.  
  • Hiponatremia: é uma condição em que há queda dos níveis de sódio no sangue, que pode levar à intoxicação por água.
  • Hipocalcemia: a queda dos níveis de cálcio no sangue pode estar relacionada à ingestão de substâncias tóxicas, como ácido fluorídrico, fluoretos, fluosilicatos e ácido oxálico.

Os medicamentos que podem ter como efeito colateral o soluço persistente são: 

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  • Alfametildopa: anti-hipertensivo usado para tratar, especialmente, a hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia. 
  • Barbitúricos de ação curta: substâncias depressoras do sistema nervoso, que agem como antiepilépticos, sedativos, hipnóticos e anestésicos. 
  • Dexametasona: um corticosteroide usado para tratar uma variedade de doenças. 
  • Diazepam: medicamento ansiolítico

Soluço persistente: o que fazer?

Raio-x
Até mesmo exames de imagem, como um raio-X, podem ser solicitados pelo médico

Se você tem episódios de soluço que duram mais do que 48 horas e se estendem por até 1 mês ou mais, procure ajuda médica. 

O médico ou a médica que te atender fará perguntas sobre os episódios de soluço e solicitará alguns exames. Possivelmente, os exames que você terá que fazer são esses:

  • Hemograma completo
  • Glicemia de jejum
  • Ureia e creatinina
  • Eletrólitos: sódio, potássio e cálcio
  • Radiografia do tórax
  • Na presença de alterações no raio-X, pode ser solicitada uma tomografia computadorizada do tórax com contraste, para avaliar a anormalidade com mais detalhes. 
  • Tomografia computadorizada de crânio, se houver sintomas neurológicos.
  • Endoscopia digestiva alta e/ou tomografia do abdômen, se houver sintomas gastrointestinais.
  • Testes de função hepática
  • Manometria esofágica
  • Exame físico por um/uma otorrinolaringologista

Como é o tratamento do soluço persistente?

O tratamento não é direcionado ao soluço persistente, mas à doença de base que causa as crises de soluço, por isso, ela precisa ser identificada. 

Os medicamentos utilizados variam de caso para caso, mas as linhas de tratamentos mais utilizadas incluem fármacos, como:

  • Clorpromazina e haloperidol, antipsicóticos.
  • Metoclopramida, um fármaco usado no tratamento de distúrbios da motilidade gastrointestinal.
  • Baclofeno, um relaxante muscular de ação central, útil no tratamento de espasmos e soluços persistentes. 
  • Fenitoína e carbamazepina, antiepilépticos.
  • Ácido valproico, um anticonvulsivante.
  • Amitriptilina, um antidepressivo. 

Algumas medidas não farmacológicas foram relatadas na literatura que trata a respeito dos tratamentos do soluço persistente. Dentre elas, estão a acupuntura e a hipnose. 

Intervenções cirúrgicas para bloqueio do nervo frênico e implantação de marcapasso respiratório para controlar os movimentos diafragmáticos e o nervo frênico também já foram relatadas na literatura. 

Fontes e referências adicionais

Você já teve crises de soluço que não passavam? Teve que ir ao médico para investigar a causa do soluço persistente? Qual foi o diagnóstico? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Akemi Martins

Dra. Akemi Martins Higa é bióloga, formada pela Universidade Federal de São Carlos em 2011. Doutora na área de Medicina Tropical e Saúde Internacional, com ênfase em doenças neurodegenerativas, pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de nanotecnologia e imunologia aplicada ao diagnóstico de neuromielite óptica e esclerose múltipla. Para mais informações, entre em contato.

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