A gastrostomia é uma abertura na parede abdominal, que dá acesso ao interior do estômago, para administração de alimentos e de líquidos.
Este método é bastante útil para tratar pessoas que têm o sistema digestivo funcional, porém não podem ou não conseguem se alimentar por via oral. Em situações assim, diz-se que a pessoa recebe uma nutrição enteral, por meio da qual a dieta líquida é administrada diretamente ao estômago, por meio de uma sonda ligada à gastrostomia.
Crianças pequenas podem precisar de uma gastrostomia, quando não conseguem se alimentar pela boca por um período superior a 1 mês. Geralmente, esses são casos de disfagia, que é a dificuldade em engolir alimentos líquidos e sólidos. Quando a criança ou o adulto tem um problema desse tipo, ela engasga e aspira alimentos e saliva para os pulmões.
A gastrostomia é um procedimento reversível, ou seja, se o problema de origem for resolvido e a pessoa conseguir se alimentar pela boca, é possível fechar a abertura no estômago.
As refeições líquidas podem ser preparadas com a trituração dos alimentos sólidos ou pela preparação de fórmulas específicas. Em ambos os casos, é importante contar com a orientação de um ou uma nutricionista, para fazer o cálculo da necessidade calórica da pessoa em tratamento e, assim, indicar os alimentos e as quantidades ideais.
Veja quando a gastrostomia é indicada, como ela é feita, como é o pós-cirúrgico, os cuidados que se deve ter com a sonda, as possíveis complicações da gastrostomia, como usar a sonda para alimentar uma pessoa e como deve ser a comida.
Quando a gastrostomia é indicada
A gastrostomia é indicada para a nutrição de pessoas que estão impossibilitadas de se alimentar pela boca ou que não conseguem ingerir as calorias diárias necessárias, para a manutenção de seu metabolismo, correndo o risco de ficarem desnutridas.
Para que a gastrostomia seja indicada, é preciso que o estômago e o intestino estejam funcionando bem e que o problema seja restrito à deglutição dos alimentos.
Dessa forma, o objetivo com a gastrostomia é impedir que a pessoa fique desnutrida, quando estiver passando por condições que afetam sua capacidade de alimentação por via oral, como:
- Transtornos neurológicos: AVC, hemorragia cerebral, paralisia cerebral, demência, tumor no cérebro e doenças neurodegenerativas, como esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla e doença de Parkinson.
- Condições neuromusculares: podem fazer com que a pessoa coma muito lentamente, devido ao formato de sua boca ou à fraqueza dos músculos envolvidos na mastigação e na deglutição.
- Problemas na região orofaríngea e laringofaríngea: tumores no esôfago e na garganta, dificuldade grave para engolir (disfagia), fístula traqueo-esofágica congênita.
- Doença de Crohn: pode acometer a região do esôfago, causando estreitamento desse tubo, sensação de dor ao engolir e queimação.
- Insuficiência renal crônica: pode causar alterações no eixo hipotálamo-hipófise, um sistema neuronal que influencia na deglutição.
- Descompressão gástrica: é um procedimento contrário ao da alimentação, que faz a remoção do conteúdo gástrico por meio da sonda. Esse procedimento pode ser feito para desobstruir a saída do estômago para o intestino delgado, que pode ocorrer por causa de úlceras no estômago ou tumor.
- Candidíase oral: comum em pacientes com AIDS, a candidíase oral causa lesões na boca e na região orofaríngea, dificultando a deglutição.
- Após cirurgias envolvendo o sistema digestivo ou respiratório
Quando a condição clínica que causa dificuldade para engolir é passageira, como numa recuperação pós-cirúrgica, a gastrostomia pode ser um método de nutrição temporário, podendo ser revertida, ao se resolver o problema de saúde.
Em alguns casos, porém, a gastrostomia pode ser uma via de nutrição utilizada por muitos anos, até mesmo a vida toda.
Como é feita a gastrostomia?
O procedimento cirúrgico realizado para criar a abertura artificial externa do estômago requer uma incisão no epigástrio da pessoa, que é a parte média-superior (acima do umbigo) do abdômen.
Esse procedimento pode ser realizado de duas formas:
- Abordagem cirúrgica tradicional: se faz uma incisão no abdômen para chegar até o estômago e inserir a sonda.
- Abordagem percutânea por radiologia intervencionista: se faz uma incisão menor no abdômen, guiada por radiografia, e a sonda é posicionada e fixada com o auxílio da endoscopia.
A cirurgia de gastrostomia pode ser feita com anestesia geral ou local, depende do caso.
Primeiramente, é inserida uma sonda pelo nariz (sonda nasogástrica) ou pela boca (sonda orogástrica), que chega até o estômago. Com isso, se enche o estômago de ar.
Depois disso, a região do abdômen onde será feita a incisão é limpa e isolada. Com o auxílio das imagens geradas pela radiografia ou ultrassonografia, o médico ou médica cirurgião faz uma incisão na pele da pessoa. A partir dessa abertura, se perfura também o estômago.
O orifício aberto na pele é chamado de estoma, que tem aproximadamente o diâmetro de um lápis. No estoma é colocada a sonda que faz a conexão do meio externo com o interior do estômago.
O tempo de internação varia de acordo com a idade e com o estado de saúde da pessoa. A cicatrização do estômago e da pele onde houve a incisão demora, em média, de 5 a 7 dias.
Após a cirurgia de gastrostomia
Após a cirurgia, a pessoa é observada, quanto à frequência cardíaca e pressão arterial durante um período de aproximadamente 4 horas.
Nas primeiras 24 horas após a cirurgia, a sonda ainda não pode ser utilizada para alimentar o paciente, o que deve ser feito por via intravenosa (pela veia).
Quando médico ou médica constata que há ruídos no sistema gastrointestinal, sinal de que está funcionando, a pessoa pode começar a receber pequenas doses de alimento pela sonda, que vão sendo aumentadas gradativamente.
Cuidados com a sonda
No hospital, você vai aprender com a equipe de enfermagem a como cuidar da ferida feita na gastrostomia. Esse cuidado é muito importante, para evitar que haja infecções microbianas no local e inflamação.
Para evitar a infecção, é preciso lavar o local cuidadosamente, com água morna, gaze estéril e sabão com pH neutro.
Também não se deve usar roupas apertadas que pressionem a abertura da gastrostomia, e nem passar cremes perfumados ou outro tipo de produto químico na pele.
Seu médico ou médica te orientará quanto à necessidade de rodar a sonda, ao lavar o local da gastrostomia. Geralmente, é preciso fazer esse procedimento uma vez ao dia, para evitar que a sonda se fixe na pele e cause ranhuras e aberturas, que facilitam o surgimento de uma infecção.
Possíveis complicações da gastrostomia
Embora raras, podem ocorrer complicações, como hemorragia, peritonite, que é uma infecção dentro da cavidade abdominal, e danos ao cólon.
Outras possíveis complicações da gastrostomia são:
- Vazamento de alimento ou de fluidos ao redor da sonda, na parede abdominal
- Desalojamento da sonda
- Inflamação no local de incisão e ao redor da sonda
- Náuseas e diarreia
Se você notar qualquer uma dessas complicações, procure atendimento médico, para ver se é necessário fazer alguma intervenção.
As chances de complicações pós-cirúrgicas, como em qualquer outra cirurgia, são maiores nos seguintes grupos de risco:
- Fumantes
- Obesos
- Pessoas que consomem álcool com frequência
- Usuários de drogas ilícitas
O uso de alguns medicamentos antes da cirurgia também pode contribuir para complicações pós-cirúrgicas, por isso siga corretamente as instruções dadas pelo seu médico ou médica. Normalmente, as classes de medicamentos contraindicados são:
- Antiagregantes plaquetários: aspirina (AAS), bisulfato de clopidogrel, ticagrelor.
- Anticoagulantes: varfarina, rivaroxabano, dabigatrana.
- Anti-inflamatórios: ibuprofeno, naproxeno, piroxicam.
- Anticoncepcionais à base de hormônio: pílula, injeção, adesivo.
- Insulina e outros medicamentos para diabetes: metformina, gliclazida, glibenclamida.
- Medicamentos fitoterápicos: cápsulas de alho, valeriana, ginseng.
- Vitamina E e suplementos energéticos: cápsulas de cafeína, guaraná e chá verde.
Como usar a sonda para alimentação
Para alimentar uma pessoa usando a sonda de gastrostomia, são necessários alguns cuidados:
- Sente a pessoa em uma cadeira ou deixe-a mais elevada na cama, de forma a impedir o retorno do alimento para o esôfago.
- Veja se o tubo está bem esticado, sem dobras que possam impedir a passagem do alimento.
- Feche o tubo fazendo uma dobra em sua ponta ou usando um clip, para impedir a entrada de ar, quando você retirar a tampa do tubo.
- Abra a tampa do tubo, sem soltar a dobra, e insira a seringa de 100 mL de alimentação no tubo de gastrostomia.
- Desdobre o tubo e puxe lentamente o êmbolo da seringa para aspirar o líquido que estiver dentro do estômago. Volte esse conteúdo para o estômago da pessoa. Caso tenha saído mais do que 100 mL do estômago, é recomendado esperar mais algumas horas para alimentá-la.
- Dobre o tubo novamente.
- Encha a seringa com 20 a 40 mL de água e insira-a na sonda. Desdobre a sonda e pressione o êmbolo da seringa, para injetar a água no estômago.
- Dobre novamente a sonda e retire a seringa.
- Encha a seringa com um volume de 50 a 60 mL de comida líquida.
- Quando for retirar a seringa, não esqueça de dobrar o tubo e só desdobrá-lo quando inserir a seringa novamente. É importante não esquecer de dobrar o tubo, para evitar a entrada de ar.
- Repita o processo de inserção da seringa com o alimento, até finalizar o volume recomendado pelo médico ou médica, que normalmente não passa de 300 mL.
- Finalizado o processo de alimentação, lave a seringa e encha-a novamente com 40 mL de água, para evitar a obstrução do tubo com restos de alimento.
- Mantenha a pessoa sentada por 30 minutos.
O procedimento com a sonda é o mesmo para a administração de medicamentos. Os comprimidos devem ser triturados antes de serem misturados à água e as cápsulas devem ser abertas e seu conteúdo misturado à água. Geralmente, os medicamentos prescritos são na forma de solução, gotas ou xarope.
O volume de água necessário para a dissolução dos medicamentos é de 10 a 15 mL. É importante lavar a seringa com 5 mL de água entre um medicamento e outro, não se deve misturá-los.
Como deve ser a comida
A comida deve ser bem triturada, para não obstruir a sonda. Para evitar os pedaços maiores, coe a mistura antes de inseri-la na seringa.
Os alimentos inseridos nessa dieta líquida são orientados por um nutricionista, a fim de evitar carências nutricionais.
Fontes e referências adicionais
- Perfil de pacientes com paralisia cerebral em uso de gastrostomia e efeito nos cuidadores, Revista CEFAC, 2012; 14(5): 933-942.
- Gastrostomia e jejunostomia: aspectos da evolução técnica e da ampliação das indicações, Medicina (Ribeirão Preto), 2011; 44(1): 39-50.
- O uso da gastrostomia percutânea endoscópica, Revista de Nutrição, 2005; 18(4): 553-559.
Fontes e referências adicionais
- Perfil de pacientes com paralisia cerebral em uso de gastrostomia e efeito nos cuidadores, Revista CEFAC, 2012; 14(5): 933-942.
- Gastrostomia e jejunostomia: aspectos da evolução técnica e da ampliação das indicações, Medicina (Ribeirão Preto), 2011; 44(1): 39-50.
- O uso da gastrostomia percutânea endoscópica, Revista de Nutrição, 2005; 18(4): 553-559.