Hepatite Autoimune – O Que é, Sintomas, Tratamentos e Causas

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A hepatite é uma inflamação que afeta o fígado. Diferente de outros tipos de hepatite que são causadas por vírus, a hepatite autoimune acontece quando o sistema imunológico do corpo ataca as células hepáticas.

Além de citar quais são os sintomas da doença, vamos abordar também quais são os tratamentos disponíveis e os possíveis fatores que contribuem para o desenvolvimento dessa condição.

Hepatite autoimune – O que é

A hepatite autoimune é uma doença crônica inflamatória no fígado em que o sistema imune, por algum motivo, ataca e danifica as células do fígado. Trata-se de uma doença rara, mas que quando não tratada, pode evoluir para quadros de cirrose e insuficiência hepática.

O fígado é um dos órgãos mais importantes no nosso organismo. Ele responde por muitas reações metabólicas que permitem a digestão dos alimentos, a absorção de nutrientes e o controle do índice glicêmico, por exemplo. Assim, qualquer doença que afeta esse órgão pode ser muito prejudicial para a saúde geral.

Tipos

Existem 2 tipos de hepatite autoimune identificados pelos médicos, que são:

– Hepatite autoimune tipo 1

Esse é o tipo mais comum da doença e que pode afetar pessoas de qualquer idade, mas que tende a afetar mais os adolescentes e os jovens adultos entre 15 a 40 anos. É estimado que metade das pessoas com hepatite autoimune do tipo 1 apresentam outros distúrbios autoimunes como artrite reumatoide, doença celíaca ou colite ulcerativa, por exemplo.

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– Hepatite autoimune tipo 2

Já a hepatite autoimune do tipo 2 atinge mais as crianças e os jovens, sendo predominante em crianças entre 2 e 14 anos de idade. Outras doenças autoimunes também podem acompanhar a condição.

Há alguns estudos que falam sobre a hepatite autoimune do tipo 3, que afeta pessoas adultas acima de 30 anos, mas não há muitos dados disponíveis sobre ela. Em geral, todos os tipos apresentam os mesmos sintomas – a diferença principal está na idade das pessoas afetadas.

Causas

A causa da hepatite autoimune ainda não é totalmente conhecida, mas os pesquisadores na área acreditam que a doença é causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

O que se sabe é que na hepatite autoimune o sistema imunológico ataca as células do fígado como se elas fossem algo ruim para o organismo, como geralmente ocorre na presença de bactérias, vírus e outros micro-organismos causadores de doenças. Porém, o motivo pelo qual isso acontece não está claro.

Além dos genes que controlam a função do sistema imunológico poderem estar envolvidos nesse mecanismo, a exposição a certos tipos de vírus ou de medicamentos também pode ter a ver com o desenvolvimento da doença.

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Os médicos acreditam que o uso prolongado de medicamentos como estatinas e hidralazina usados no tratamento de doenças do coração e a utilização de antibióticos como a nitrofurantoína e a minociclina podem estar relacionados com o desenvolvimento da doença. Além disso, o estresse também pode aumentar o risco de desenvolver a hepatite autoimune.

Embora as causas não sejam compreendidas, existem fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento da doença, como:

  1. Ser mulher: Foi detectado ao longo dos anos que a hepatite autoimune é mais comum em mulheres do que em homens.
  2. Fator hereditário: Evidências científicas e clínicas indicam que pode haver uma predisposição genética à hepatite autoimune se alguém na família já desenvolveu a doença.
  3. Ter uma doença autoimune: Pessoas já diagnosticadas com alguma doença autoimune podem ter maior risco de desenvolver hepatite autoimune. Exemplos incluem tireoidite, doença de Graves, colite ulcerativa, artrite reumatoide, esclerodermia, lúpus, síndrome de Sjogren, diabetes do tipo 1 e doença inflamatória intestinal.
  4. Histórico de infecções: A doença também pode se desenvolver depois de o corpo ter sido infectado por certos micro-organismos como pelo vírus do sarampo, pelo vírus da hepatite, pelo herpes simplex ou pelo Epstein-Barr. A hepatite autoimune também pode estar relacionada a infecções causadas por hepatites A, B ou C.

Sintomas

Cerca de um terço dos pacientes com hepatite autoimune apresenta hepatite aguda, que é caracterizada por febre, icterícia e sensibilidade hepática. Apenas um terço é diagnosticado com a versão crônica da doença em que os sintomas podem progredir mais rapidamente e geralmente são mais graves.

Os sintomas da hepatite autoimune variam muito de pessoas para pessoa. Alguns dos sintomas podem surgir subitamente e podem incluir dor de barriga, icterícia e febre enquanto outras pessoas podem apresentar vários dos sinais abaixo:

  • Fadiga;
  • Erupções cutâneas e acne;
  • Urina escura e fezes de cor clara;
  • Amenorreia ou ausência de menstruação;
  • Desconforto no abdômen superior ou distensão abdominal;
  • Náusea;
  • Vômito;
  • Fígado maior em tamanho ou hepatomegalia;
  • Anorexia ou perda de peso e apetite;
  • Mialgia ou dores musculares;
  • Artralgia ou dores articulares;
  • Amarelecimento da pele e dos olhos, chamado também de icterícia;
  • Diarreia;
  • Edema.

Sintomas mais graves que indicam danos severos ao fígado incluem:

  • Hirsutismo ou desenvolvimento de características masculinas na mulher como excesso de pelo;
  • Prurido leve;
  • Estômago ou tornozelos inchados;
  • Vasos sanguíneos anormais visíveis na pele conhecidos também como angiomas de aranha;
  • Hemorragia;
  • Confusão mental.

Complicações

Se não for tratada, a hepatite autoimune pode causar cicatrizes graves no fígado, conhecidas como cirrose, e levar à insuficiência hepática. Algumas das complicações incluem:

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  • Ascite:A ascite, chamada também de barriga d’água, é uma condição em que fluidos se acumulam no abdômen. Problemas no fígado em geral podem resultar em acumulo de líquido na região abdominal.
  • Insuficiência hepática:A insuficiência hepática acontece quando há muitos danos no fígado que dificultam ou não permitem que o órgão funcione de modo adequado, fazendo com que ele perca suas funções.
  • Varizes esofágicas:As varizes esofágicas são veias que crescem demais no esôfago devido a problemas hepáticos. Em um certo ponto, esses vasos sanguíneos podem se romper devido à alta pressão sanguínea, causando uma hemorragia que pode ser fatal.
  • Câncer de fígado: Pessoas com problemas graves no fígado têm maior risco de desenvolver câncer no órgão.

Hepatite autoimune é contagiosa?

Não podemos dizer que a hepatite autoimune é contagiosa pelo fato da doença ser causada pelo próprio sistema imunológico. Só são contagiosos os tipos de hepatite causados por vírus como a hepatite A, B e C.

O contágio da hepatite A se dá através do contato com as fezes de uma pessoa contaminada, pelo contato direto com uma pessoa infectada ou por ingestão de água ou alimentos contaminados. Já a hepatite B só é transmitida por meio de relação sexual sem proteção ou pela ingestão de leite materno contaminado quando a lactante apresenta a doença. A hepatite, por sua vez, pode ser transmitida pelo compartilhamento de materiais como seringas e agulhas, itens de higiene pessoal, por relações sexuais ou passada de mãe para filho.

Na hepatite autoimune, esses riscos de contaminação não existem.

Como diagnosticar a doença

A hepatite autoimune é diagnosticada através da análise dos sintomas e de exames específicos como um exame de sangue para testar anticorpos e níveis de proteínas específicas para identificar a doença.

Alguns resultados anormais que indicam a presença de hepatite autoimune podem incluir:

  • Níveis altos de aminotransferase sérica;
  • Níveis elevados de imunoglobulina G relacionada com infecções e inflamações;
  • Resultados positivos para os anticorpos antinucleares (ANAs), anticorpos do músculo liso (SMAs), anticorpos do fígado-rim microssômico tipo 1 (LKM-1) e anticitosol do fígado 1 (anti-LC1);
  • Presença de hipoalbuminemia e prolongamento do tempo de protrombina;
  • Bilirrubina sérica e fosfatase alcalina elevadas.

Outras enzimas e proteínas hepáticas também podem ser analisadas no exame de função hepática para confirmar a presença de danos no fígado. Também podem ser observados anemia normocrômica, anemia hemolítica Coombs-positiva, leucopenia leve, trombocitopenia, eosinofilia e taxa alta de sedimentação de eritrócitos.

Uma biópsia hepática serve para confirmar a suspeita e determinar o estado do fígado para sugerir o tratamento mais adequado. O teste consiste em remover um pequeno pedaço do tecido hepático para realizar as análises.

Tratamentos

Quando diagnosticada e tratada da forma adequada, a hepatite autoimune pode ser controlada com o uso de medicamentos supressores do sistema imunológico.

Não importa se a hepatite autoimune é do tipo 1 ou 2, o tratamento será o mesmo. O objetivo do tratamento é evitar o ataque do sistema imunológico ao fígado, evitando mais danos e retardando a progressão da doença.

Isso é feito através do uso de medicamentos chamados de imunossupressores, que atuam diminuindo a atividade do sistema imunológico ou corticosteroides para tratar a inflamação.

– Imunossupressores

Os medicamentos imunossupressores servem para interromper ou pelo menos reduzir o ataque do sistema imunológico contra as células do fígado. Exemplos desses remédios incluem a 6-mercaptopurina, o micofenolato de mofetil e a azatioprina.

– Corticosteroides

Os corticosteroides atuam contra a inflamação e também podem atuar como supressores do sistema imune. A prednisona é o remédio mais comum da classe.

A prednisona a longo prazo pode causar efeitos colaterais graves como osteoporose, osteonecrose, diabetes, pressão arterial alta, glaucoma, catarata e aumento de peso. Por esse motivo, os médicos costumam prescrever doses mais altas de prednisona no início do tratamento e após o primeiro mês essa dose é reduzida gradualmente até que a dose ideal para controlar a doença seja encontrada. No lugar da prednisona, alguns médicos podem prescrever a budesonida. O tratamento misto com prednisona e azatioprina também ajuda a evitar os efeitos adversos da prednisona.

Na maioria dos casos, os pacientes tomam prednisona por pelo menos 1 ano e meio a 2 anos enquanto algumas precisam usar o remédio pela vida inteira já que a doença tende a voltar se o tratamento for interrompido.

– Transplante de fígado

Em casos em que nenhum tratamento é suficiente para controlar os sintomas da hepatite autoimune, a inflamação está avançada ou quando já há insuficiência hepática, um transplante de fígado pode ser necessário.

De acordo com o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, 86% dos transplantes de fígado sobrevivem e se recuperam bem.

Os transplantes de fígado geralmente são feitos através de um doador morto que sofreu morte cerebral, mas já há casos em que o doador vivo doa apenas parte de seu fígado saudável. Essa porção do fígado é capaz de produzir novas células hepáticas rapidamente para “completar” suas funções.

– Alterações na dieta e de estilo de vida

Além do tratamento com medicamentos, mudanças simples na dieta podem fazer toda a diferença para manter o fígado saudável.

  • Alimentação: Inclua alimentos saudáveis como frutas e vegetais e limite a ingestão diária de proteínas e de gordura, que são alimentos mais difíceis de serem processados pelo fígado.
  • Exercícios: Exercitar-se regularmente e controlar o peso é muito importante, pois a obesidade pode influencia na progressão da doença, tornando o tratamento mais difícil. Isso porque o excesso de gordura pode se acumular no fígado, causando outros problemas no órgão como a doença hepática gordurosa.
  • Eliminação de hábitos nocivos: Evite ingerir bebidas alcoólicas, pois o álcool é uma substância tóxica para o fígado, especialmente em grandes quantidades. O fumo também deve ser evitado, já que fumar pode aumentar a gravidade dos danos hepáticos.
  • Orientações médicas: Também é importante evitar o consumo de suplementos e medicamentos sem antes consultar um médico, já que muitas dessas substâncias podem sobrecarregar o fígado e causar ainda mais problemas.

É essencial seguir todas as orientações do seu médico para que o tratamento seja eficaz e ocorra uma remissão rápida da hepatite autoimune, o que fará com que seu fígado volte a funcionar normalmente e com que os sintomas sejam controlados.

Fontes e Referências Adicionais:

Você já tinha ouvido falar da hepatite autoimune? Conhece alguém ou você mesmo sofra dessa condição? Quais tratamentos foram recomendados? Comente abaixo!

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Sobre Dr. Lucio Pacheco

Dr. Lucio Pacheco é Cirurgião do aparelho digestivo, Cirurgião geral - CRM 597798 RJ/ CBCD. Formou-se em Medicina pela UFRJ em 1994. Em 1996 fez um curso de aperfeiçoamento em transplantes no Hospital Paul Brousse, da Universidade de Paris-Sud, um dos mais especializados na Europa. Concluiu o mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) em 2000 e o Doutorado em Medicina (Clinica Médica) pela UFRJ em 2010. Dr. Lucio Pacheco é autor de diversos livros e artigos sobre transplante de fígado. Atualmente é médico-cirurgião, chefe da equipe de transplante hepático do Hospital Copa Star, Hospital Quinta D'Or e do Hospital Copa D'Or. Além disso é diretor médico do Instituto de Transplantes. Suas áreas de atuação principais são: cirurgia geral, oncologia cirúrgica, hepatologia, e transplante de fígado. Para mais informações, entre em contato.

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1 comentário em “Hepatite Autoimune – O Que é, Sintomas, Tratamentos e Causas”

  1. Eu sou Gabbana e convivo com a Epatite autoimune já mais de 3 anos. Foi muito complicado descobrir e chegar em um diagnóstico, um baque total em minha vida pois sempre fui ligado em 220 e do nada me tornei totalmente limitado com muitas situações novas que apareceram como: Muito cansaço, confusão mental, enjoo e com a introdução do primeiro tratamento com predimizona que durou mais de um ano foi devastador fiquei totalmente deformado com efeitos colaterais insuportáveis, ainda bem que o tratamento deu certo mas não estava aguentando mais, mudamos para Azatioprina melhorou um pouco os efeitos colaterais mais ainda o cansaço e muito grande e as dores no corpo todo é um horror sem falar nos enjoo e na falta de energia muitas das vezes passo o dia inteiro deitado sem conseguir me locomover. Mas com tudo isso sigo firme no meu atratamento a adesão é fundamental e por fim agente vai se adaptando e descobrindo por si mesmo como funciona, infelizmente a medicina ainda não consegue nos dar uma resposta compreensiva sobre o problema.

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