Gordura interesterificada faz mal à saúde?

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Talvez o termo gordura interesterificada soe estranho, mas você já deve ter ouvido falar em gordura trans e o quanto ela é prejudicial à saúde.

A gordura trans é amplamente utilizada na produção dos alimentos industrializados, pois aumenta a estabilidade em altas temperaturas e garante consistência e sabor mais agradáveis ao paladar, além de proporcionar maior prazo de validade nas prateleiras dos supermercados. 

Por todas essas vantagens, a indústria alimentícia fez um uso desenfreado da gordura trans nos produtos embalados e congelados. 

Mas, com tantas evidências apontando para os riscos que a gordura trans causa à saúde, a indústria alimentícia começou a utilizar um novo processo para solidificar os óleos vegetais: a esterificação das gorduras. Este processo foi escolhido, pois envolve baixos custos e gera os mesmos efeitos de sabor e durabilidade que a gordura trans nos produtos alimentícios. 

Hoje, as margarinas são as principais fontes de gorduras interesterificadas. Apesar das rotulagens ainda serem pouco claras quanto ao uso dessas gorduras, elas provavelmente também estão presentes nas batatas chips, pipoca de micro-ondas, congelados prontos para fritar, maionese, sorvete, bolachas, biscoitos e pães industrializados. 

Para a indústria alimentícia, essa substituição foi vantajosa, mas será que ela está sendo benéfica para a nossa saúde? 

Veja mais detalhes sobre as gorduras interesterificadas e como elas podem impactar a nossa saúde. 

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O que são gorduras interesterificadas? 

Interesterificação é o nome de um processo químico feito na indústria alimentícia, em que se mistura uma gordura saturada com um óleo vegetal líquido, para produzir um óleo endurecido, livre de gorduras trans

O efeito das gorduras interesterificadas nos alimentos é o mesmo que o da gordura trans, ou seja, deixam o produto mais crocante, saboroso e com maior prazo de validade. 

Apesar da interesterificação não produzir gorduras trans, ele ainda é um processo químico que deixa resíduos nos alimentos, potencialmente nocivos à saúde.

Por que as gorduras interesterificadas estão sendo utilizadas?

Margarina
Você consome esse tipo de gordura no seu café da manhã?

Esse novo tipo de gordura começou a ser utilizada devido às exigências dos órgãos de fiscalização, que tornaram obrigatória a descrição da quantidade de gorduras trans presentes em uma porção do alimento, nos rótulos das embalagens.

Essa exigência surgiu do conhecimento geral de que as gorduras trans prejudicam a saúde. O programa Replace Trans Fat da Organização das Nações Unidas (ONU) é um exemplo de incentivo, em nível global, à eliminação da gordura trans dos alimentos até 2023. 

Neste contexto, as gorduras interesterificadas se destacaram como substitutas ideais da gordura trans, pois envolvem baixos custos de produção e produzem os mesmos resultados. 

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Desde 2006, a Anvisa faz essa exigência, de que as empresas descrevam a quantidade de gorduras trans em uma porção do alimento. O problema é que esta resolução permite que as empresas declarem que o produto é livre de gordura trans se, em uma porção, a quantidade da gordura for menor do que 0,2 g

Porém, dificilmente, uma pessoa consome apenas uma porção do alimento. Assim, se essas pequenas quantidades de gorduras trans ignoradas forem contabilizadas, considerando o total de porções consumidas, uma pessoa pode ingerir grandes quantidades de gorduras trans naquele produto rotulado como totalmente “livre” da substância. 

Quais são os efeitos das gorduras interesterificadas na saúde?

Gordura
A margarina é um dos maiores exemplos de gorduras interesterificadas

Os efeitos das gorduras interesterificadas ainda estão sendo estudados, especialmente a sua relação com as doenças cardiovasculares, as doenças do coração. 

Há diversos desafios para avaliar o impacto dessas gorduras no organismo, pois muitos produtos não contêm essa informação em seus rótulos, e as inúmeras indústrias alimentícias que existem no mundo utilizam diferentes tipos de gorduras como matérias-primas para produzirem as suas gorduras interesterificadas, dificultando a comparação entre os resultados obtidos nas pesquisas científicas.

Por causa disso, os resultados parecem controversos. Até agora, as gorduras interesterificadas estão sendo usadas como substitutas da gordura trans, porque parecem não aumentar os riscos à saúde do coração, como fazem as gorduras trans

Em contrapartida, também existem evidências que relacionam o consumo de gorduras interesterificadas com o aumento dos níveis de colesterol ruim, o LDL, principalmente em pessoas que já têm níveis elevados desse colesterol e triglicérides no sangue.

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Estudos conduzidos em animais indicaram que o consumo de gorduras interesterificadas resultou no aumento dos níveis de glicose (açúcar) no sangue e prejudicou a ação da insulina, o hormônio responsável por retirar a glicose do sangue e fazê-la entrar nas células.

Consequentemente, o consumo de gordura interesterificada aumenta os riscos de diabetes e piora a condição de saúde de quem já convive com a doença. 

Esses testes também mostraram aumento do colesterol ruim, o LDL, e redução do HDL, o colesterol bom no sangue dos animais. 

Além disso, os pesquisadores também observaram um aumento na resposta inflamatória no organismo dos animais, um fator de risco para a aterosclerose, que é uma inflamação associada com o acúmulo de gordura, colesterol e outros elementos na parede das artérias de qualquer parte do corpo, como coração, cérebro e pernas.

Esse acúmulo de gordura nas artérias pode resultar em acidente vascular cerebral, o AVC, e infarto.

Conclusão

O setor industrial já se adaptou à substituição da gordura trans pela gordura interesterificada, mas ainda existem muitos questionamentos a respeito de seus efeitos na saúde e mais estudos precisam ser feitos para avaliá-los. 

Portanto, é recomendado reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, porque não são saudáveis, independentemente de conterem ou não a gordura trans ou interesterificadas. 

Sabe-se que esses alimentos possuem alta adição de açúcares, gorduras, substâncias químicas e conservantes, que propiciam o aparecimento de diversas doenças. Veja alternativas para você substituir os alimentos ricos em gorduras nocivas à saúde por opções de lanches saudáveis.

Fontes e referências adicionais

Você já tinha ouvido falar em gordura interesterificada? Já encontrou esse termo nos rótulos das embalagens? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

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