Casos de Alergias a Alimentos Têm Aumentado – Especialista Explica

publicado em

Percebeu que nos últimos tempos tem se falado mais a respeito das alergias alimentares? Não é por acaso, uma vez que a prevalência da condição não passa despercebida: a alergia alimentar atinge aproximadamente 6% das crianças e 3,5% dos adultos no Brasil.

Além disso, uma reportagem de 2019 apontou que algo que chama a atenção dos profissionais que atuam no Serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre é justamente o aumento nos casos de alergias alimentares. E essa não é uma tendência observada somente no nosso país.

“O crescimento das alergias nas recentes décadas tem sido particularmente notável no Ocidente. Atualmente as alergias alimentares afetam aproximadamente 7% das crianças no Reino Unido e 9% na Austrália. Através da Europa, por exemplo, 2% dos adultos têm alergias alimentares”, afirmou a professora clínica sênior do Departamento de Alergia Pediátrica da universidade inglesa King’s College de Londres, Alexandra Santos, em análise para a BBC.

De acordo com a professora, a lista de alimentos que mais costumam provocar alergias alimentares nas crianças inclui: leite, ovos, amendoim, gergelim, peixes e frutos do mar (crustáceos e moluscos) e nozes como amêndoas, pinhão, nozes-pecã, castanha-do-pará e nozes tipo walnut.

É importante, até mesmo por conta desse crescente aumento no número dos casos, conhecer desde cedo os sintomas de alergia alimentar para estar atento e saber o que fazer rapidamente.

Mas o que é uma alergia alimentar?

Ter uma alergia alimentar significa que o seu organismo confunde um alimento ou uma substância presente naquele alimento com algo perigoso. A partir disso, a resposta do sistema imunológico é fazer com que as células liberem anticorpos para neutralizar o alérgeno.

Então, a próxima vez em que mesmo uma quantidade pequena da comida ou da substância encontrada na comida em questão for ingerida, ao perceber a sua presença, os tais anticorpos vão acionar o sistema imunológico para que ele libere a chamada histamina e outras substâncias químicas na corrente sanguínea, resultando assim nos sintomas de uma reação alérgica. As informações são da Mayo Clinic, organização da área de serviços médicos e pesquisas médico-hospitalares dos Estados Unidos.

  Continua Depois da Publicidade  

Veja mais: Você sabe a diferença entre alergia alimentar e intolerância alimentar?

Os sintomas e os impactos das alergias alimentares

Ainda de acordo com a Mayo Clinic, uma alergia alimentar pode ser manifestada por meio dos seguintes sintomas:

  • Coceira ou formigamento na boca;
  • Urticária  (erupção ou lesão na pele com manchas ou placas vermelhas e coceira);
  • Eczema (inflamação que deixa a pele vermelha, escamosa e, algumas vezes, com rachaduras ou pequenas bolhas);
  • Inchaço nos lábios, rosto, língua, garganta ou outras regiões do corpo;
  • Sibilo (chiado no peito);
  • Congestão nasal;
  • Dificuldade para respirar;
  • Dor abdominal;
  • Diarreia;
  • Náusea;
  • Vômito;
  • Tontura;
  • Vertigem;
  • Desmaio.

Uma alergia alimentar ainda pode resultar em uma reação alérgica grave, chamada de anafilaxia, que envolve sintomas como constrição e restrição das vias respiratórias, inchaço na garganta ou sensação de caroço na garganta que dificulta a respiração, pulso rápido, perda de consciência, tontura, vertigem e choque com uma redução severa na pressão arterial, apontou a organização.

A Mayo Clinic advertiu ainda que a anafilaxia é uma emergência médica que exige o encaminhamento imediato ao hospital, uma vez que se não for devidamente tratada pode levar ao coma e até mesmo a morte.

Uma mostra de que as alergias alimentares não são brincadeira é que segundo a professora clínica sênior do Departamento de Alergia Pediátrica da King’s College, Alexandra Santos, em sua análise para a BBC, no ano de 2018 uma menina de seis anos de idade faleceu na Austrália em decorrência de uma alergia a produtos laticínios (leite e seus derivados).

Ela também citou a ocorrência de mortes de adolescentes do Reino Unido que sofriam com alergias alimentares.

  Continua Depois da Publicidade  

“Reações fatais podem ser incitadas mesmo por pequenos traços dos alimentos desencadeadores (da alergia), o que significa que os pacientes e as famílias vivem com medo e ansiedade. As restrições alimentares que seguem (a condição) se tornam um fardo para as vidas sociais e familiares”, completou Santos.

Para a professora, esses acontecimentos trágicos evidenciam o impacto que as alergias alimentares podem ter, assim como a necessidade de que os produtos alimentícios sejam rotulados de maneira clara e precisa.

“Atualmente não existe uma cura para a alergia alimentar e o controle da condição baseia-se em evitar evitar os alimentos ofensores e em um plano de tratamento emergencial no caso de exposição”, disse ela.

Mas por que as alergias alimentares têm aumentado?

A professora do Departamento de Alergia Pediátrica da King’s College relatou que a frequência das alergias alimentares tem aumentado ao longo dos últimos 30 anos, especialmente nas sociedades industrializadas.

Santos também afirmou não ser possível dizer com certeza qual é a causa desse crescimento nos índice de alergia. Entretanto, existem algumas hipóteses que podem nos levar a possíveis explicações.

“O aumento nas alergias não é simplesmente o efeito da sociedade estar se tornando mais consciente acerca delas e melhor em diagnosticá-las. Considera-se que as alergias e o crescimento da sensibilidade aos alimentos são provavelmente ambientais e relacionados aos estilos de vida ocidentais”, explicou a professora.

  Continua Depois da Publicidade  

Os fatores ambientais envolvidos no processo podem incluir poluição, mudanças alimentares e exposição mais baixa a micróbios, aspectos que modificam a maneira como o sistema imunológico do organismo responde, detalhou Santos.

A propósito, aprender como fortalecer o sistema imunológico é sempre bom para evitar qualquer tipo de condição de saúde.

“Nós sabemos que há taxas mais baixas de alergia nos países em desenvolvimento. Elas também são mais prováveis de ocorrer em áreas urbanas do que nas rurais. Os imigrantes aparentam mostrar uma maior prevalência de asma e alergia alimentar no país adotado em comparação ao país de origem, ilustrando ainda mais a importância dos fatores ambientais”, completou a professora.

– Mais higiene = menos infecções = menos alergias?

Santos foi além e especificou ainda mais a respeito das teorias que a ciência tem para explicar a maior incidência das alergias alimentares. Uma delas está baseada no conceito que a melhoria da higiene fez com que as crianças não pegassem mais tantas infecções.

“As infecções parasitárias, em particular, são normalmente combatidas pelos mesmos mecanismos envolvidos no combate às alergias. Com menos parasitas para combater, o sistema imunológico se vira contra coisa que deveriam ser inofensivas”, esclareceu a professora do Departamento de Alergia Pediátrica da King’s College.

Veja também hábitos saudáveis de higiene que previnem doenças para evitá-las.

– Vitamina D

Outra hipótese levantada para explicar o crescimento no índice de alergias alimentares é a falta de vitamina D no organismo. Isso porque existe a ideia que diz que a vitamina D pode auxiliar o sistema imunológico a desenvolver uma resposta saudável, o que torna o organismo menos propenso a sofrer com alergias, explicou Santos.

Segundo ela, a maioria das populações mundiais não consome uma quantidade suficiente de vitamina D. Uma reportagem de 2018 da Revista Exame apontou que a maior parte da população brasileira apresenta insuficiência do nutriente e que, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a causa do problema está associada a baixa ou nenhuma exposição ao sol.

Por isso, além de obter a vitamina D por meio do sol, para fornecer o nutriente ao organismo vale a pena conhecer os alimentos que funcionam como fonte de vitamina D.

– Teoria da exposição dupla ao alérgeno

A professora do Departamento de Alergia Pediátrica da King’s College também mencionou a chamada teoria da exposição dupla ao alérgeno, que prega que o desenvolvimento de uma alergia alimentar está associado a um equilíbrio entre o tempo, a dosagem e a forma de exposição a um alérgeno – a substância que dispara a resposta alérgica no organismo.

“Por exemplo, o desenvolvimento de anticorpos da alergia pode ocorrer através da pele, particularmente através da pele inflamada nos bebês com eczema. Porém, considera-se que comer os alimentos que podem desencadear (uma alergia) durante o desmame pode gerar uma resposta saudável e prevenir o desenvolvimento da alergia, pois o sistema imunológico do intestino está preparado para tolerar bactérias e substâncias externas, como alimentos”, explicou Santos.

Ela contou que esse conceito foi a base de uma pesquisa da King’s College, que indicou uma diminuição de aproximadamente 80% da alergia ao amendoim nas crianças que comeram o alimento regularmente dentro do seu primeiro ano de vida.

Antes de aderir a uma estratégia do tipo para tentar prevenir a alergia futuramente na vida do seu neném, procure a orientação médica para não correr o risco de cometer algum erro.

Fontes e Referências Adicionais:

Você tem alguma alergia alimentar ou tem presenciado o aumento dessas alergias em pessoas da família? Comente abaixo!

Foi útil?
1 Estrela2 Estrelas3 Estrelas4 Estrelas5 Estrelas
Loading...
  Continua Depois da Publicidade  
Sobre Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

Deixe um comentário